31 de Outubro de 2024

Economia

País que depende de benefícios sociais está doente, dizem economistas

Apesar do desemprego em baixa, especialistas apontam que valores pagos pelo Estado têm tirado pessoas do mercado de trabalho
Ilustração
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Os programas sociais compõem uma iniciativa histórica dos entes públicos para assegurar a subsistência de pessoas em situação de miséria.

Economistas apontam, no entanto, que, atualmente, a diferença entre o valor pago por benefícios sociais e pelo mercado de trabalho desequilibra a economia brasileira.

E exemplificam a raiz desse desequilíbrio: se uma família pode receber mais por meio de benefícios, ela poderia se afastar da formalidade para se enquadrar nos parâmetros dos programas e garantir o pagamento.

José Ronaldo de Castro Souza Jr., professor de economia no Ibmec e economista-chefe da Leme Consultores, lembra que havia esse preocupação na época do lançamento do programa Bolsa Família, em 2003.

O economista aponta que, naquela época, estudos indicavam que o valor do pagamento era muito baixo para concorrer com os salários pagos, mas suficiente para garantir a subsistência dos beneficiados. O cenário hoje se inverteu.

“Com várias políticas sociais combinadas, o Bolsa Família, junto de outros benefícios, consegue pagar mais do que toda a família pode ganhar, então, começa a ficar comparável”, explica.

Dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome mostram que o Bolsa Família paga hoje, em média, R$ 678,46 por família. O valor representa uma alta de 253,8% em comparação com o que era pago antes da pandemia (R$ 187,91). Enquanto isso, os salários cresceram 2,63% no período.


“O lado bom é que o país está conseguindo ajudar essas pessoas que, de forma alternativa, estariam numa situação de penúria e miséria. O lado negativo é que revela um país que está doente”, afirma Paulo Tafner, presidente do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS).

Segundo o especialista, há dados mostrando que o atual valor do Bolsa Família tem retirado pessoas que poderiam estar no mercado de trabalho.

“O ajuste do valor tem que ser um ajuste muito fino. Se for muito baixo, ele não resolve o problema das famílias. Por outro lado, se for muito alto, ele pode gerar consequências no mercado de trabalho.”


Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), também vê uma relação de causa e consequência entre o aumento do valor pago em programas de transferência de renda e o mercado de trabalho.

“Parte da história do desemprego baixo se explica devido a uma oferta de trabalho menor, induzida por esse aumento dos programas sociais”, conclui.
Fonte: CNN Brasil