27 de Novembro de 2025

Justiça

Renê afirma na Justiça que odeia armas

Réu pelo assassinato do gari alegou que estava armado no dia do crime por causa de ameaças que vinha sofrendo e que foi pressionado a confessar
Reprodução
Renê da Silva Nogueira Júnior em depoimento à Justiça
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Renê da Silva Nogueira Júnior em depoimento à Justiça
'Eu odeio arma. Se gostasse de arma, teria uma. Só peguei a arma para me defender de uma possível e injusta agressão'. Foi com essas palavras que Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, encerrou seu depoimento à Justiça durante a audiência de instrução realizada nessa quarta-feira (27/11), no 1º Tribunal do Júri Sumariante. Ele é réu pelo assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, morto após uma confusão no trânsito em agosto deste ano. A declaração foi uma tentativa de Renê refutar o perfil de “fissurado” por armas atribuído a ele por meio do inquérito da Polícia Civil.

Renê Júnior não respondeu ao interrogatório proposto pela Justiça, mas usou o espaço de fala para contar 'um pouco da sua própria história'. Na oportunidade, quis negar que tinha fascínio por armas, como mostraram vídeos que vazaram da investigação policial sobre o réu. Em uma das gravações, ele aparece no banco do passageiro de um carro, exibindo duas armas: “Tem duas ferramentas aqui, se precisar (...) Novas no sistema, para a gente utilizar caso dê problema”, afirmava ele no vídeo.

'Em momento nenhum. Se eu fosse fissurado por armas, seria um CAC (Caçador, Atirador ou Colecionador), porque não tenho antecedentes criminais e teria condições financeiras para isso. (...) Estão tirando as fotos de contexto. As outras duas armas são de uma inspetora (...), que era minha namorada. Ela as esqueceu na minha casa, e eu tirei a foto da bolsa dela: ‘Parece que você deixou seu distintivo e suas armas aqui’. Então, está tudo fora de contexto', alegou.

O réu também comentou a foto em que supostamente exibiria o distintivo da esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino. No inquérito da Polícia Civil, Renê é descrito como alguém que demonstrava interesse pelo cargo ocupado pela esposa, chegando a divulgar imagens em que aparecia com o distintivo dela.

Renê alegou que a foto foi tirada por causa de uma declaração que a delegada daria para o “Dia da Mulher”.

'Minha esposa ia dar uma declaração à imprensa sobre o Dia da Mulher e me perguntou: ‘Você poderia ver para mim se eu deixei (o distintivo) velho ou o novo?’ E eu mandei a mensagem: ‘Esse aqui ficou, não sei qual é, está na minha mão’. Aí falaram que eu me passei por delegado porque tirei uma foto? Por que eu faria isso? Todo mundo sabia, meu Instagram era público e aberto', afirmou.

Neste segundo dia de audiências, além de Renê, também prestaram depoimento outras quatro testemunhas indicadas pela defesa do réu, sendo três policiais e uma pessoa ligada à empresa onde ele trabalhava.

Por nota, a defesa técnica de Renê informou que todas as testemunhas presenciais do caso foram ouvidas na qualidade de informantes 'por terem interesse no resultado do processo, vez que ajuizaram ação indenizatória'.

'Restou comprovado que não houve reconhecimento do réu na forma da lei processual, que os projéteis foram recolhidos por transeunte não identificado, em clara quebra da cadeia de custódia da prova, e que a obtenção de acesso ao celular do acusado se deu sem a prévia comunicação dos seus advogados em notória violação ao princípio da não autoincriminação. No mais, confiamos que o trabalho seja reconhecido e alcance resultados pretendidos', escreveram os advogados Bruno Rodrigues e Thiago Minagé.

Renê está preso desde as horas seguintes ao crime, no dia 11 de agosto. A esposa dele, a delegada Ana Paula Lamego Balbino, acusada de ter emprestado a arma usada no crime, também será julgada, mas em um processo separado. O caso dela foi desmembrado e encaminhado para uma vara criminal da capital responsável por crimes comuns, e as audiências dela ainda não têm data marcada.

O crime
Na manhã da segunda-feira de 11 de agosto, por volta das 9h, houve uma confusão no trânsito no bairro Vista Alegre, região Oeste de Belo Horizonte. Um caminhão de coleta de lixo estava parado quando um carro BYD cinza, vindo na direção contrária, se aproximou. O motorista do carro, Renê da Silva Nogueira Júnior, teria sacado uma arma e ameaçado a condutora do caminhão, dizendo que “iria atirar na cara” dela. Logo depois, ele teria atirado contra o gari Laudemir de Souza Fernandes, que estava trabalhando na coleta.

O gari foi atingido na região torácica, próximo às costelas, e socorrido ao Hospital Santa Rita, em Contagem, mas não resistiu aos ferimentos. Após o disparo, o suspeito fugiu no carro BYD cinza e foi localizado pela polícia na tarde do mesmo dia, enquanto malhava em uma academia de alto padrão no bairro Estoril. Ele foi preso sem oferecer resistência. Conforme relatos das testemunhas, pouco antes de ser atingido, Laudemir teria dito: “Acertou em mim”. Testemunhas que estavam no local do crime afirmaram que o suspeito “saiu tranquilo e com semblante de bravo” após atirar na vítima.

Renê confessa ter matado gari
Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos, confessou ter matado o gari Laudemir durante interrogatório no Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma semana após o crime, na segunda-feira de 18/8. Segundo a Polícia Civil, o empresário alegou que efetuou o disparo durante uma discussão de trânsito.


Fonte: O Tempo