30 de Abril de 2020

Economia

Estado vai dar um empurrão na economia, diz Paulo Guedes

Guedes explicou que a recuperação após a pandemia "será instantânea".
Wilson Dias/Agência Brasil
Wilson Dias/Agência Brasil
Sem dar mais detalhes, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu, nesta quinta-feira (30), que, mesmo com a retomada das reformas estruturais, o Estado vai auxiliar a recuperação da atividade econômica. "O governo vai dar um empurrão na economia, como deu antes", disse após se referir às propostas de regulação paradas no Congresso Nacional. Ele participou da terceira reunião remota da Comissão Mista COVID-19, para acompanhamento de medidas de combate à pandemia.

Guedes explicou que a recuperação após a pandemia "será instantânea", conforme as reformas estruturais voltem a tramitar no Congresso. "Tenho essa certeza disso porque temos um Congresso reformista", disse. "São as reformas que irão nos tirar do buraco. Temos que melhorar os marcos regulatórios do saneamento, da energia elétrica, do petróleo e gás e da infraestrutura", reforçou.

A fala do ministro, que foi interrompida devido ao limite de tempo permitido a cada participante, é uma surpresa quando considerado o perfil liberal do guru da economia do governo Bolsonaro. No entanto, ainda ao longo da reunião, ele voltou a dizer que a reestruturação econômica terá de ser por meio do investimento, uma vez que o Brasil "está quebrado".

"Se eu dobrar o investimento público, não vou conseguir fazer o Brasil crescer. A verdade, dura, é que o governo brasileiro quebrou em todos os níveis. Nível federal, municipal e estadual. Quando falamos que vamos ter de se reerguer pelo capital privado, pelos investimentos privados, seja em saneamento ou infraestrutura, é porque o governo quebrou. Depois de 10, 15, 20 anos de expansão descontralada de gasto público, quebraram o governo", justificou.

Desde o início da sua gestão, Guedes tem defendido que a resposta para a recuperação da atividade econômica seja por meio do investimento privado, e não pelo aumento de gastos públicos. Na última quarta-feira, ele chegou a afirmar que a solução não seria fazer um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), comparando o programa do governo do PT que apostou nos recursos públicos como alavanca para o crescimento econômico com o programa Pró Brasil. Anunciado na semana passada, o programa foi interpretado pelo mercado financeiro como novo programa de investimento público.

Impacto

Ao longo de sua fala, o ministro também voltou a dizer que o impacto da pandemia na economia brasileira será menor que o previsto, uma vez que o choque externo não está sendo sentido. Segundo ele, a queda de mais de 30% nas exportações para Estados Unidos e Argentina são compensadas pela alta de 25% ou 26% para a China. "As exportações brasileiras estão inalteradas, subiram em agronegócio e caíram em manufaturados", observou. "O Brasil estava fora das cadeias produtivas globais. O que era maldição acabou virando bênção", avaliou.

Ainda na visão do ministro, como um terço da queda de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) seria pelo choque externo, agora a economia deve registrar contração menor. "Se o PIB ia cair 6% em 2020, com 2% de choque externo e 4% de choque interno, já não temos esse componente externo. Ia cair 6% e agora deve cair 4%", completou.

Governadores

Na avaliação de Guedes, a crise de saúde se transformou em um movimento para em que governadores e prefeitos tentam se aproveitar da transferência de recursos da União. "Eu não podia concordar. Pedi ajuda ao senador Davi Alcolumbre. Falei que não podemos quebrar a União e transformar o que é uma crise de saúde em um grande movimento de transferência de recursos para estados e municípios com assuntos que não têm nada a ver com a saúde, isso não é razoável", criticou.

Ele destacou que o programa de ajuda aos estados e municípios foi ampliado de R$ 90 bilhões para R$ 130 bilhões, mas que exigirá a contrapartida de que os recursos sejam usados no combate à pandemia e seus impactos. O ministro defendeu, mais uma vez, o congelamento de salários do funcionalismo público.

Sem demissões

Ao comentar sobre as medidas emergenciais focadas na manutenção de empregos, ele destacou que as empresas brasileiras não têm motivos para demitir os trabalhadores. "Estamos pagando metade do salário do trabalhador e estamos financiando a outra metade. Então, a empresa não tem desculpa para demitir”, disse.

Ele destacou ainda que os programas emergenciais já preservaram mais de 4,3 milhões de postos de trabalho formais com a Medida Provisória 936, que permite a suspensão de contratos ou a redução da jornada e de salários de forma proporcional. "A expectativa é que até 5 milhões de empregos sejam preservados até o fim do dia de hoje, enquanto nos Estados Unidos já são 26 milhões de pedidos de seguro-desemprego", comparou.

Entretanto, sobre a possibilidade de aumentar o tempo do auxílio emergencial a informais caso a crise da pandemia se estenda, o ministro destacou que a ação poderia transformar o Brasil na Venezuela: "Se a produção for interrompida, com duração maior do isolamento, quando mais dinheiro for dado podemos cair na situação da Venezuela todo mundo com dinheiro na mão, mas a prateleira vazia."


Fonte: CNN Brasil